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Resenha do livro A
MÃO DE FÁTIMA
ILDEFONSO FALCONES, TRADUÇÃO CARLOS NOUGUÉ, EDITORA
ROCCO,
2011, 768 páginas
RECOMENDAÇÃO: LITERATURA ADULTA
Um
livro excepcionalmente bem-escrito por Ildefonso Falcones; um romance histórico
que introduz ficção à história como ela de fato aconteceu. Conta com detalhes
minuciosos a guerra entre mouros e cristãos nos anos 1500 na Espanha em que
cada povo almejava implantar sua religião como a única sobrepujando a outra. E
esta é a trama principal do livro: a luta pela manutenção da fé do povo muçulmano
de que seu deus é o único. E por conta dessa causa, muitas vidas foram
derrotadas e muitas outras, salvas.
O
protagonista é Hernano, um jovem marcado desde a sua concepção para ser
sofredor. Filho da jovem muçulmana Aisha que foi estuprada por um padre. Após o
menino ter nascido, a mãe casou com Brahim o qual aceitou o 'Nazareno' em troca
de uma mula a mais como dote.
A
mãe não foi muito feliz com esse casamento arranjado, pois o marido tratava o
menino pior que a um escravo impedindo-o inclusive de dormir dentro de casa. O
'bastardo' dormia junto às mulas do padrasto que era arrieiro; levava suas
várias mulas cargueiras a outras cidades quando viajava a fim de comprar
mercadorias e revendê-las e, com o lucro, sustentar sua família que a essa
altura já contava com mais quatro bocas para alimentar. E o adolescente o
ajudava e tinha uma especial predileção pela mula de nome Velha.
Com
relação à guerra, no início os mouros se sobressaíram e houve uma matança maciça
de cristãos. Porém, esta fora a única vitória muçulmana. A igreja cristã se
sobressaiu nas demais e muitas e muitas pessoas foram obrigadas ao trabalho escravo
ou expulsas do lugar ou, até mortas. À inúmeras mulheres, restava a
prostituição para sustentar seus filhos, principalmente quando o marido era
assassinado em nome da guerra santa.
Hernano
teve muitos altos e baixos durante o relato do livro. Sempre trabalhou muito
para que a crença num deus único não sucumbisse aos mandos e desmandos dos
padres que deturpavam as leis e os preceitos.
Na
primeira vitória dos cristãos, Aisha juntamente com os quatro filhos foi presa
dentro de uma igreja (a qual havia sido um templo muçulmano) e Hernano
conseguiu libertá-la junto com três pessoas. Mas ao chegar a um lugar onde
pudessem ver com mais clareza seus rostos, perceberam que dois eram seus filhos
e a terceira pessoa era Fátima, uma jovem de 14 anos que tinha um bebê no seu
colo. No desespero, Fátima agarrou-se à mãe de Hernano e pediu muito para não
ser deixada pra trás e eles não tiveram como negar-lhe isto. E ficaram muito
tristes porque dois dos filhos de Aisha ficaram pra trás e não havia como
voltar para buscá-los.
Hernano
logo se enamorou da jovem assim como seu padrasto, visto que os muçulmanos
podiam se casar com quantas mulheres pudessem sustentar. Ele imediatamente a cobiçou
e assim que soube que o marido dela estava morto, casou-se com ela para o
desgosto de Aisha, de Hernano e da própria mulher que também estava enamorada do
rapaz. Os dois tinham quase a mesma idade.
Durante
suas fugas, acabaram chegando a um lugar de domínio cristão que recenseava todos
os que entravam na cidade. Brahim havia registrado Fátima como sua esposa (Aisha
estava com os filhos em outro lugar), entretanto, entre os cristãos a lei é que
só se pode estar casado com uma pessoa. Sendo assim, para ficar na família, ela
se casou no altar dos cristãos com Hernando; contudo, ela continuava a conviver
maritalmente com Brahim.
A
história traz muitas reviravoltas tanto para Hernano, que mais tarde pode se
casar com Fátima, vivendo seu próprio conto de fadas e tendo filhos com ela,
quanto para Brahim, para Aisha e para a própria Fátima.
Anos
depois de ficar sabendo que Fátima e seus filhos estavam mortos, Hernano
casou-se de novo e teve outros filhos, embora acalentasse o sonho de se
reencontrar com ela, pois não havia visto os corpos dos seus entes queridos.
Sua
mãe e seu padrasto tiveram um fim muito trágico, mas para os protagonistas, o
desfecho é bastante inusitado.
Para
escrever este livro, o autor estudou uma vasta bibliografia sobre o assunto,
pois só assim poderia trazer tantos dados históricos. O autor os descreve com
tanta riqueza de detalhes que nos parece estar vivendo a guerra junto a seus
personagens. O livro nos presenteia com lições de dignidade e humanidade. E nos
dá uma aula sobre os princípios da fé muçulmana.
O
título faz menção à mão de Fátima, amuleto árabe em forma de mão com cinco
dedos, que, segundo algumas teorias, representa os cinco pilares da fé. E um
desses amuletos, Fátima trazia consigo do primeiro casamento e permaneceu com
Hernano até que os dois se reencontraram no final da história.
O
livro ganhou o IX Prêmio Roma de Literatura Estrangeira e foi publicado em mais
de vinte países com mais de um milhão de exemplares vendidos. O autor publicou
antes deste romance, outro tão bem aceito quanto este com o título A catedral
do mar.
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