sábado, 5 de janeiro de 2019

54- Resenha do livro A MÃO DE FÁTIMA


ILDEFONSO FALCONES, TRADUÇÃO CARLOS NOUGUÉ, EDITORA 

ROCCO, 2011,  768 páginas

RECOMENDAÇÃO: LITERATURA ADULTA

         
Um livro excepcionalmente bem-escrito por Ildefonso Falcones; um romance histórico que introduz ficção à história como ela de fato aconteceu. Conta com detalhes minuciosos a guerra entre mouros e cristãos nos anos 1500 na Espanha em que cada povo almejava implantar sua religião como a única sobrepujando a outra. E esta é a trama principal do livro: a luta pela manutenção da fé do povo muçulmano de que seu deus é o único. E por conta dessa causa, muitas vidas foram derrotadas e muitas outras, salvas.

O protagonista é Hernano, um jovem marcado desde a sua concepção para ser sofredor. Filho da jovem muçulmana Aisha que foi estuprada por um padre. Após o menino ter nascido, a mãe casou com Brahim o qual aceitou o 'Nazareno' em troca de uma mula a mais como dote.

A mãe não foi muito feliz com esse casamento arranjado, pois o marido tratava o menino pior que a um escravo impedindo-o inclusive de dormir dentro de casa. O 'bastardo' dormia junto às mulas do padrasto que era arrieiro; levava suas várias mulas cargueiras a outras cidades quando viajava a fim de comprar mercadorias e revendê-las e, com o lucro, sustentar sua família que a essa altura já contava com mais quatro bocas para alimentar. E o adolescente o ajudava e tinha uma especial predileção pela mula de nome Velha.

Com relação à guerra, no início os mouros se sobressaíram e houve uma matança maciça de cristãos. Porém, esta fora a única vitória muçulmana. A igreja cristã se sobressaiu nas demais e muitas e muitas pessoas foram obrigadas ao trabalho escravo ou expulsas do lugar ou, até mortas. À inúmeras mulheres, restava a prostituição para sustentar seus filhos, principalmente quando o marido era assassinado em nome da guerra santa.

Hernano teve muitos altos e baixos durante o relato do livro. Sempre trabalhou muito para que a crença num deus único não sucumbisse aos mandos e desmandos dos padres que deturpavam as leis e os preceitos.

Na primeira vitória dos cristãos, Aisha juntamente com os quatro filhos foi presa dentro de uma igreja (a qual havia sido um templo muçulmano) e Hernano conseguiu libertá-la junto com três pessoas. Mas ao chegar a um lugar onde pudessem ver com mais clareza seus rostos, perceberam que dois eram seus filhos e a terceira pessoa era Fátima, uma jovem de 14 anos que tinha um bebê no seu colo. No desespero, Fátima agarrou-se à mãe de Hernano e pediu muito para não ser deixada pra trás e eles não tiveram como negar-lhe isto. E ficaram muito tristes porque dois dos filhos de Aisha ficaram pra trás e não havia como voltar para buscá-los.

Hernano logo se enamorou da jovem assim como seu padrasto, visto que os muçulmanos podiam se casar com quantas mulheres pudessem sustentar. Ele imediatamente a cobiçou e assim que soube que o marido dela estava morto, casou-se com ela para o desgosto de Aisha, de Hernano e da própria mulher que também estava enamorada do rapaz. Os dois tinham quase a mesma idade.

Durante suas fugas, acabaram chegando a um lugar de domínio cristão que recenseava todos os que entravam na cidade. Brahim havia registrado Fátima como sua esposa (Aisha estava com os filhos em outro lugar), entretanto, entre os cristãos a lei é que só se pode estar casado com uma pessoa. Sendo assim, para ficar na família, ela se casou no altar dos cristãos com Hernando; contudo, ela continuava a conviver maritalmente com Brahim.

A história traz muitas reviravoltas tanto para Hernano, que mais tarde pode se casar com Fátima, vivendo seu próprio conto de fadas e tendo filhos com ela, quanto para Brahim, para Aisha e para a própria Fátima.

Anos depois de ficar sabendo que Fátima e seus filhos estavam mortos, Hernano casou-se de novo e teve outros filhos, embora acalentasse o sonho de se reencontrar com ela, pois não havia visto os corpos dos seus entes queridos.

Sua mãe e seu padrasto tiveram um fim muito trágico, mas para os protagonistas, o desfecho é bastante inusitado.

Para escrever este livro, o autor estudou uma vasta bibliografia sobre o assunto, pois só assim poderia trazer tantos dados históricos. O autor os descreve com tanta riqueza de detalhes que nos parece estar vivendo a guerra junto a seus personagens. O livro nos presenteia com lições de dignidade e humanidade. E nos dá uma aula sobre os princípios da fé muçulmana.

O título faz menção à mão de Fátima, amuleto árabe em forma de mão com cinco dedos, que, segundo algumas teorias, representa os cinco pilares da fé. E um desses amuletos, Fátima trazia consigo do primeiro casamento e permaneceu com Hernano até que os dois se reencontraram no final da história.

O livro ganhou o IX Prêmio Roma de Literatura Estrangeira e foi publicado em mais de vinte países com mais de um milhão de exemplares vendidos. O autor publicou antes deste romance, outro tão bem aceito quanto este com o título A catedral do mar.

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